HISTÓRIA DA PARÓQUIA

São Francisco de Paula a Igreja que não acabou

    A história da igreja São Francisco de Paula começou em 1799, então como uma capela erguida no ponto mais alto da Vila, mais próximo de Deus e da visão dos primeiros habitantes e dos viajantes que por ali passavam; o lugar onde é hoje o Alto de São Francisco. Na época existiam apenas três igrejas: a Matriz de Nossa Senhora da Luz de Pinhais (atual Catedral), a de Nossa Senhora do Terço (atual Igreja da Ordem) e do Rosário, todas em péssimo estado de conservação. Dom Mateus de Abreu, bispo de São Paulo, durante um visita pastoral a Curitiba, constatou a urgência de novos santuários. Em sua passagem pela região hospedou-se na fazenda do coronel Manoel Gonçalves Guimarães, onde fazendeiros vizinhos se dirigiam para rezar o terço e novenas.
    A visita do bispo e suas ponderações sobre a precariedade das igrejas despertaram no coronel o desejo de erguer um santuário. Para isso foi criada a Confraria de São Francisco de Paula, que recolhia doações devidamente anotadas no Livro de Despesas. Em 1809 ficou pronta uma capela, que deveria dar origem a uma grande igreja. A capela recebeu a bênção episcopal em 1811, na mesma data em que foi entronizada a imagem de São Francisco, esculpida em madeira de lei por um artista desconhecido, assim como desconhecida é a sua origem. Provavelmente veio acompanhando algum grupo de imigrantes da Europa, italianos ou portugueses. No altar, a imagem ocupava lugar estratégico, olhar voltado para o céu, mas saía de lá em tempos de seca para guiar os fiéis em procissão. Conta uma lenda que, em seguida ao cortejo, o céu sempre escurecia, ventava muito e um abundante chuva atingia o vilarejo.
Ruínas do Alto São Francisco, atual
RUÍNAS DO ALTO SÃO FRANCISCO ATUAL
 
    O coronel Manoel Gonçalves Guimarães morreu em 1815, deixando a obra da igreja apenas iniciada. No local havia apenas os alicerces em pedra - e assim ficariam ainda por muito tempo. Naquele tempo o ambiente religioso andava conturbado, com o clero e a população discutindo sobre a continuidade da obra ou a concentração dos esforços em mais uma reforma na Catedral. A matriz saiu vitoriosa, e a igreja de São Francisco ficou esquecida até 1899, quando chegaram os primeiros franciscanos que a ela se dedicaram até 1901. No entanto, eles se mudaram para a praça Rui Barbosa, e a obra foi novamente abandonada e desta vez em definitivo - ao menos no local original.
    Em 1914, por meio de uma permuta com a Prefeitura Municipal, a Diocese ganhou um terreno nas esquinas das ruas Saldanha Marinho e Desembargador Mota e decidiu erguer ali a futura igreja de São Francisco de Paula. A velha capela, antes iniciada no Alto São Francisco, foi demolida e as Ruínas viraram marco histórico de Curitiba.
CAPELA DE SÃO FRANCISCO DE PAULA - ALTO SÃO FRANCISCO

    Paroquianos doaram dois outros lotes contíguos à área permutada com a Prefeitura. No local foi construída uma casa onde por muitos anos funcionou a Escola Paroquial, dirigida pelas irmãs de São José. Para a realização dos cultos foi construída uma igreja temporária, de madeira. Foi aí que teve início a devoção a Santa Terezinha do Menino Jesus, cuja escultura permaneceu ali por muito tempo. Em dezembro de 1936, a igreja de São Francisco de Paula, foi elevada a paróquia, por decreto de dom Ático Eusébio da Rocha.
 
A MATRIZ - CAMPANHA
 Em março de 1949, o então pároco, monsenhor Boleslau Falarz, deu os primeiros passos para a construção da matriz. Empreendedor, ele chamou alguns paroquianos, explicou a situação e pediu que visitassem todos os moradores da região e oferecessem a eles um carnê mensal de 10 cruzeiros. Aldo e Rute Bertoldi, Oswaldo Guiiss e Luiz Modesto Porat, entre outros, saíam em grupos para as visitas. O grupo também se encarregava de fazer as cobranças para não gerar despesas extras à paróquia.
    No começo, as obras foram tocadas graças a festas e quermesses. A continuidade da construção, porém parecia extenuar o monsenhor, que em cartas ao  hoje arcebispo de Curitiba, dom Pedro Fedalto, então seminarista em São Paulo, dava notícias de seu projeto: "a paróquia anda em movimento regular, agora um tanto alvoroçada pelo lançamento da campanha pró-construção da nova matriz (...) Quando começaremos? Só Deus sabe! Quando tivermos quinhentos mil cruzeiros em mãos. Espero que isso aconteça daqui a dois anos".
    Dois anos depois, no final de 1951, o seminarista Pedro receberia mais uma carta de monsenhor Falarz dando conta do atraso das obras: "ainda não pude começar a construção da igreja porque o arquiteto não terminou a planta. Será uma parada difícil".
    Só em 1953, em outra carta ao seminarista Pedro Fedalto, o monsenhor comunicaria o começo da obra: "nossa matriz está subindo muito devagar devido à falta de verba. O que tínhamos terminou. A luta é séria e só um milagre não permitirá que estacionemos os trabalhos". E apela a seu pupilo: "Reze para que São Francisco nos alcance esse milagre!".
    Para erguer a matriz, a velha igreja de madeira foi demolida, e as missas, transferidas para o Colégio Sion. Foi por pouco tempo, porque em 1954, com a cripta da igreja pronta (construção subterrânea) os cultos voltaram a ser celebrados ali. 

Finalmente, em 1961 a nova matriz recebeu a bênção episcopal, mas ainda faltava a sagração. Esta foi feita por meio da Cerimônia de Dedicação, que requer algumas condições, como a construção de um altar fixo, 4 ou 12 cruzes na coluna, representando os evangelistas, e que sejam regularizadas a liturgia e os sacramentos. Somente com a sagração do altar que a igreja é dedicada, ou seja, o local só pode ser usado para cultos religiosos. Isto só aconteceu em 2006, ao término da restauração feita pelos arquitetos Dirceu Contti e Cláudio Forte Maiolino. A Missa Solene  deste 8 de julho, portanto vai marcar algumas datas especiais: a bênção do busto do monsenhor Boleslau Falarz, os 60 anos de sua chegada à paróquia e um ano de Dedicação da Igreja e Sagração do Altar.
 
IGREJA MATRIZ DE SÃO FRANCISCO DE PAULA - R. DESEMBARGADOR MOTTA, 2500 - CENTRO - CURITIBA - PR

PATRIMÔNIO HISTÓRICO
A igreja São Francisco de Paula é considerada é considerada patrimônio religioso de grande valor histórico e cultural, com sua beleza arquitetônica, de estilo Basilical Romântico, reconhecida como Unidade de Interesse de Preservação (UIP). "É o século XII na época atual", como monsenhor descrevia o projeto ao seminarista Pedro Fedalto em carta de maio de 1949.
    Com térreo, pavimento superior, galerias e coro e mais a torre de 40 metros, o templo tem uma área construída de 2.474,00m2. A parte interna é bem trabalhada, com teto de estuque plano na nave, capela-mor com teto em abóbada, grandes vitrais de tribunas laterais e, ao fundo e de frente para o altar, o espaço para o coro, com órgão. O conjunto externo é marcado pela torre única, pelas estátuas dos profetas, pelas grandes colunas e as escadarias, que a elevam acima do nível da rua.
    Na cúpula, a inscrição em latim Vere hic Domus Dei et Porta Caeli ( De fato aqui é a Casa de Deus e a porta do céu). Possivelmente era o que monsenhor Falarz queria dizer quando explicava ao seminarista Pedro Fedalto a razão da escolha de um modelo diferente das demais igrejas de Curitiba e do Paraná: "Creio que o estilo salva a piedade e o recolhimento, essenciais num tempo sagrado".
 
FONTE: LÚCIA NÓRCIO